NEGÓCIOS EM CASA

20/03/2011 01:56

 Alguns anos atrás, trabalhar significava, em praticamente 100% dos casos, que a pessoa não tinha dinheiro para abrir um escritório ou um negócio próprio. Com o fenômeno das tecnologias da informação, esse conceito mudou radicalmente. Hoje, trabalhar em casa, por exemplo, virou tendência nos grandes centros, e quem adota a experiência não cansa de enumerar as vantagens dos chamados home office, como a flexibilidade de horários, ganho de tempo com a redução de reuniões, fim do estresse com o trânsito diário e, é claro, a redução de custos.

Em Curitiba, dois profissionais que trabalham em casa há anos têm a resposta na ponta da língua quando questionados sobre a escolha. Ambos não abrem mão da qualidade de vida que ganharam ao decidir levar a empresa para dentro de casa. “O ponto forte é a qualidade de vida. Para você ter uma ideia, estou trabalhando de shorts, camiseta e chinelo”, diz Douglas Zela, durante entrevista, por telefone. O coordenador e professor de Marketing e Pós-Gestão da Comunicação Organizacional da FAE Centro Universitário, em Curitiba, há 20 anos, faz todo trabalho de sua empresa de consultoria, na sala de casa, onde instalou seu home office.

Outro defensor dessa modalidade de trabalho é o designer e publicitário André Brik, que, em 2003, trocou um emprego em uma agência de publicidade para abrir a Brik mkt+design, trabalhando em casa. “Quando saí do emprego, vi que poderia fazer coisas com muito mais inteligência trabalhando em casa”, destaca. Entre os exemplos, cita que hoje não perde mais tempo com reuniões e interrupções que aconteciam antes. “Como trabalho com a linha de raciocínio, isso, muitas vezes, me fazia perder o fio da meada”, relembra.

Zela e André Brik concordam, também, com a economia que o sistema oferece. Segundo Zela, há estudos que mostram redução de quase 60% dos gastos para a área de prestação de serviços. Os cortes vão desde a economia com o aluguel, com a compra de equipamentos e com móveis, até a redução de gastos, com transporte e com alimentação.

A experiência de André Brik foi tão satisfatória, que, em 2008, ele decidiu lançar o blog Go Home (www.gohome.com.br) para difundir essa modalidade de trabalho, que, segundo ele, ainda sofre alguns preconceitos. Ali, ele aborda os desafios e vantagens do home office, compartilha experiências e macetes, indica sites de referência e ferramentas gratuitas. Na esteira do designer, a mulher dele, a jornalista Marina Sell Brik também aderiu ao escritório em casa, em 2006, quando montou a empresa Jornalismo Corporativo, de assessoria de imprensa. Hoje, os dois compartilham o mesmo escritório, em casa.

Desafios

Parece simples, mas não é. Do outro lado da balança, os desafios para conseguir trabalhar em casa também são grandes. Cachorros, filhos, a mulher solicitando alguma ajuda doméstica, família, a geladeira cheia de comidas gostosas, a televisão a cabo, enfim, tudo o que existe em uma casa pode se tornar um pretexto para parar de trabalhar. Mas não é só. Outros grandes problemas, segundo André Brik, são o isolamento do meio de trabalho, que pode levar até a depressão, e a perda de controle do tempo de trabalho, que pode levar a pessoa a dois extremos prejudiciais, ou  procrastinando os trabalhos ou trabalhando sem hora para parar.

Por isso, a primeira recomendação para os empreendedores que pretendem aderir ao home office é ter disciplina. Muita disciplina. Quem não tiver esse perfil, dificilmente conseguirá separar o ambiente de trabalho com a vida doméstica.

A disciplina começa com o estabelecimento de uma rotina, o que inclui estabelecer horários rígidos, como se a pessoa fosse trabalhar em uma empresa. “É importante ter hora para acordar, parar na hora do almoço, ter hora para o fim do expediente”, ensina Zela. Nesse ponto, o casal Marina e André Brik são ainda mais disciplinados que o consultor Zela. Marina conta que, apesar de estar em casa, ela se veste com uma roupa mais adequada ao trabalho, maquia-se e só então atravessa a porta que a leva à sala de trabalho.

“Eu tento manter um horário de expediente. Por outro lado, quando está tranquilo eu tenho liberdade para sair, dar uma caminhada, ir ao parque. O tempo que eu economizo no trânsito, de casa para o trabalho e vice-versa, eu ganho em qualidade de vida”, conta o marido, André Brik.

Além da organização da rotina, é preciso também organizar o ambiente físico. A recomendação dos especialistas é para que o home office seja instalado, de preferência, em um ambiente próprio, para que o trabalho não se misture à vida doméstica, e com mobiliário adequado. O ideal é que seja um lugar mais isolado, longe de fontes de barulho, como a cozinha e a sala de tevê, por exemplo. “Tenho um job station”, diz Zela, que utiliza a sua sala como escritório. Ali, ele tem um canto com móveis ergonômicos para o trabalho e até uma mesa para reuniões. 

Zela lembra, ainda, que há alguns limitadores para o exercício do trabalho em casa. Um empresário que precise de funcionários, por exemplo, ou que necessite receber clientes no local de trabalho, terá dificuldade de exercer a atividade em um home office. Há, ainda, limites físicos, como condomínios que não permitem atividades comerciais ou a não concessão de alvarás pelas prefeituras em determinadas áreas da cidade.

Vencidos os obstáculos, a tecnologia é a grande aliada de quem trabalha em casa. Zela tem quatro associados assistentes em sua empresa de consultoria, e praticamente todo o contato entre eles é virtual. O segredo, segundo ele, é lançar mão de todas as ferramentas para trabalhar e se comunicar: notebook, celular, blackberry, skipe, MSN, redes sociais e outros recursos gratuitos à disposição. “Fala-se em home office, mas, com tanta tecnologia, já estamos na era do car office ou até do bag office”, diz.

A consultora do Sebrae/PR, Marcia Giubertoni Borro, reforça alguns cuidados que os empreendedores devem ter, na hora de optarem por negócios em casa. O ambiente empresarial deve estar dissociado do ambiente doméstico. “A atitude deve ser a mais profissional, a mais empresarial possível. O empreendedor, ao relacionar-se com seus clientes, não pode agir como se estivesse na extensão da sua convivência familiar. Não há espaço para amadorismos ou atitudes sem um foco corporativo.”

A modalidade home office, lembra a consultora, tem tido cada vez maior número de adeptos no mundo, porém, como em qualquer empresa, independente de seu porte, só sobreviverão os negócios mais estruturados e atentos à realidade de mercado. Marcia Borro diz que os empreendedores que montam home office têm a seu favor custos menores, o que pode ser uma vantagem competitiva, já que as microempresas quase sempre dispõem de poucos recursos financeiros, para gerir os negócios.

Empregados em casa

Não são só autônomos que adotam o home office. Com a facilidade das novas tecnologias da informação, muitas grandes empresas também estão percebendo que um funcionário trabalhando em casa pode ser mais produtivo e mais barato. Nesse caso, o nome adequado não é home office, mas sim teletrabalho.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Teletrabalho (Sobratt), mais de 1 milhão de brasileiros trabalham em casa com carteira assinada. Trata-se de um número significativo entre os 11 milhões de assalariados e com tendência de crescimento de 10% ao ano. (Texto produzido pela jornalista Maigue Gueths, para a décima edição da Revista Soluções)

Dicas para trabalhar em casa

O site Go Home e o livro “101 maneiras de ganhar dinheiro trabalhando em casa”, de Dan Ransey, trazem dicas para os empreendedores que querem trabalhar em casa. Confira 15 orientações, sobre como ser profissional.

1. Veja se você tem perfil adequado para trabalhar em casa. É preciso ter iniciativa e fugir do isolamento. Analise as opções de atividades que podem ser executadas em casa e suas possibilidades de ganho.

2. Desenvolva um plano de negócios e uma estratégia de marketing. O Sebrae tem cursos gratuitos pela internet que podem ajudar nessa fase. Acesse o site do Sebrae (www.sebrae.com.br), clique em “Aprenda com o SEBRAE” e, no submenu, clique “cursos pela internet”.

3. Lide com a burocracia: registro de marca (acesse o site do INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial), domínio na internet (acesse o site registro.br), abertura de empresa, alvará na prefeitura, leis de zoneamento, dentre outros.

4. Construa uma estrutura financeira. O ideal é obter o máximo de informação sobre como gerenciar as finanças da sua empresa. Livros e cursos contam bastante. Um gerente de banco que se disponibilize a ajudar pode ser importante. Um ótimo contador é imprescindível.

5. Monte seu escritório. Selecione um espaço próprio. Adquira o equipamento, mobiliário específico para escritório e artigos de almoxarifado necessários.

6. Procure instalar uma entrada independente para receber clientes, fornecedores ou mesmo para a entrada de funcionários. Isso dá um ar mais profissional ao negócio. Não há nada pior do que atravessar a sala, onde a criançada está na maior folia ou a família está se alimentando, para chegar ao balcão de uma empresa.

7. Planeje com cuidado o espaço da casa que você ocupará para trabalhar, até mesmo adotando tratamento acústico nas paredes, para que sons de atividades domésticas (como crianças, televisão e aparelhos de som) não interfiram em seus telefonemas.

8. Tenha uma linha telefônica exclusiva para o negócio. Atenda sempre de modo formal e, na sua ausência, prefira a secretária eletrônica à ajuda de familiares para anotar recados. Estude o caso de contratar os serviços de escritórios virtuais. Com eles, você pode ou não ter um espaço para trabalhar, pode alugar salas apenas para reuniões e usar diversos serviços, como os de copiadora, motoboy, recebimento de correspondência, atendimento telefônico profissional, por exemplo.

9. Registre um domínio na internet para a criação do site de sua empresa. Para isso você precisa pagar uma taxa anual ao órgão responsável pelo registro de domínios (www.registro.br). Um site é um ótimo cartão de visitas e ajuda a dar credibilidade a um novo negócio. Além disso, ao registrar o domínio, você também recebe um e-mail (voce@suaempresa.com.br), o que dá uma aparência mais profissional aos contatos feitos com clientes e fornecedores.

10. Defina horários para o início e o término do expediente. Um pouco de disciplina nos horários não faz mal a ninguém e ajuda na sua qualidade de vida e na de sua família.

11. Organize e administre bem seu tempo. Cumpra prazos e compromissos com o cliente. Não é porque você está numa garagem que não precisa ser pontual, ter bom preço e produtos de qualidade.

12. Estabeleça regras claras com sua família, para não misturar problemas e situações da vida doméstica com as da empresa. Separe a pessoa física da pessoa jurídica. O caixa da empresa não pode ser confundido com o cofrinho da família.

13. Cuide da aparência. Não é porque está trabalhando em casa que pode apresentar-se de chinelo ou de camiseta furada. Vista-se como se fosse ao escritório. A aparência conta pontos preciosos na conquista de respeito e confiança de clientes, fornecedores e empregados.

14. Lance mão de terceirizar serviços, como entregas, cópias ou fabricação.

15. Desenvolva o material de marketing: cartões de visita, material de vendas e amostras. Associe-se a entidades dentro da sua área de atuação.

Para saber mais sobre o assunto, navegue no www.gohome.com.brwww.workingsolo.com;www.portaldoempreendedor.gov.br. A página oficial da Sobratt – Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades, www.sobratt.org.br, também traz informações interessantes. A bibliografia sobre o tema é extensa. Algumas indicações, para conferir: “Working from Home”, de Sarah Edwards; “101 Home Office Success Secrets”, de Lisa Kanarek ; “Home-Based Business For Dummies, de Paul Edwards, Sarah Edwards e Peter Economy;  e “The Home Office Solution: How to Balance Your Professional and Personal Lives While Working at Home”, de Alice Bredin.

FONTE: SEBRAE